Discurso da Magnífica Reitora da Universidade Federal de Rondônia, Profª Maria Berenice Alho Tourinho, na abertura do evento Unir Azul, em comemoração ao Dia Nacional do Surdo.
FALAZUL
Senhoras e Senhores sejam bem-vindos a este espaço de
convivência, que é um lugar impregnado da história desta
universidade. Da nossa história. Nossos avanços em pesquisas
científicas e nas práticas sindicais, em grande parte, passaram
necessariamente por aqui. Aos que nos prestigiam com a visita
participativa, nós, da Universidade Federal de Rondônia,
expressamos nossa felicidade em tê-los conosco.
Hoje, por conta deste evento, estamos particularmente azuis.
Azuis como as setas convergentes do nosso emblema; azuis como
o setembro que traz alento aos que vão à luta e anuncia a vinda
das chuvas benfazejas; azuis como o desejo de entender e se fazer
entender pelo outro, elegendo o próprio corpo como vaso
comunicante; azuis como a mímica que significa o estar no
mundo e faz disso uma prece à vida; azuis como a liberdade que
se busca no horizonte.
O azul turquesa é o escolhido pelo movimento para representar a
comunidade surda em todo o mundo. Um azul nobre como a
causa. E são nos setembros azuis que a comunidade anualmente
reafirma os seus sinais. O corpo, complemento e extensão da fala,
depõe o silêncio externo. As mãos, expressivas por excelência,
provocam os demais membros sensoriais. Os sinais, brotando do
corpo, fluentemente falam.
Mas nós estamos aqui é para celebrar e refletir juntos a efetivação
do espaço sociocultural conquistado pelos surdos. D. Pedro II
tinha em mente esta efetivação quando criou o Instituto Nacional
de Educação de Surdos (INES), nos anos oitenta do século XIX.
O percurso não tem sido fácil. A linguagem dos sinais tem uma
linha do tempo conflituosa e polêmica. Mas, importa saber é que,
no presente, LIBRAS é uma língua reconhecidamente nacional, E
tem sua universalidade garantida. A primeira vez que
vimos Rebeca Nemmer traduzi e interpretar,
com singular sensibilidade, o hino nacional brasileiro
(http://www.youtube.com/watch?v=Fn2QyvzKRmA) tivemos a
confirmação do que acabamos de afirmar acima. Nada poderia ser
mais nacional que aquele ser iluminado expressando o seu amor
ao país.
Por tal motivo, causa-nos estranheza saber que “do ponto de vista
da educação inclusiva, o MEC não acredita que a condição
sensorial institua uma cultura. As pessoas surdas estão na
comunidade, na sociedade e compõe a cultura brasileira. Nós
entendemos que não existe cultura surda e que esse é um princípio
segregacionista. As pessoas não podem ser agrupadas nas escolas
de surdos porque são surdas. Elas são diversas. Precisamos
valorizar a diversidade humana” (Fonte: Revista Feneis sobre a
reportagem CONAE, página 23, 3º parágrafo).
Segregar, a nosso ver, é não ter, no corpo docente das escolas públicas,
professores de LIBRAS. Valorizar a diversidade humana, no nosso
entendimento, é algo bem maior: é conviver com as diferenças e
tentar supera-las considerando as particularidades do outro,
valorizando e aceitando sua cultura.
Por essas e outras razões, acreditamos que a saída é
intensificarmos a discussão em torno do conceito de inclusão que,
parece-nos, ainda não está posto de forma clara e nem
politicamente correta. Basta-nos lembrar de que os
afrodescendentes e os índios já estiveram no centro dessa
discussão pelo viés das cotas de ingresso ao ensino superior.
São eventos da natureza do UNIR AZUL que oportunizam o
aprofundamento de um tema tão sensível. Aqui ouviremos
representantes de diferentes seguimentos da sociedade: a
academia, as associações dos surdos e dos tradutores e a
comunidade de um modo geral. Nossa expectativa, neste sentido,
é que avancemos a discussão numa atitude positiva e pautada na
realidade prática. Claro que há lugar para os sonhos – sempre haverá –
mas para os sonhos construídos coletivamente, que não
tentem maquiar a realidade que nos cerca.
Caso algum de vocês nos perguntasse agora se estamos
preparados para receber os alunos surdos na Universidade Federal
de Rondônia, diríamos que não, mas que queremos estar. Sim.
Queremos estar e contamos com a ajuda de todas as pessoas e
instituições envolvidas nesta busca de uma inclusão natural e
necessária, que entendemos como uma incumbência conjunta.
E para terminarmos, reforçando as boas-vindas, afirmamos que
estamos azuis. Azuis como o bando de araras que cruza,
diariamente, os céus deste câmpus, em sonoras revoadas, sem
reclamar só para si o direito sobre a paisagem, repartindo com
outros seres a vastidão celestial estampada neste azul sem fim.
Bons ventos e bom evento para todos nós!
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