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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Discurso Azul - Universidade Federal de Rondônia

Discurso da Magnífica Reitora da Universidade Federal de Rondônia, Profª Maria Berenice Alho Tourinho, na abertura do evento Unir Azul, em comemoração ao Dia Nacional do Surdo.







FALAZUL

Senhoras  e  Senhores  sejam  bem-vindos  a  este  espaço   de 
convivência,  que  é  um  lugar  impregnado  da  história   desta 
universidade. Da nossa história.  Nossos avanços em pesquisas 
científicas e nas práticas sindicais, em grande parte, passaram 
necessariamente por aqui. Aos que nos prestigiam com a visita 
participativa,  nós,  da  Universidade  Federal  de  Rondônia, 
expressamos nossa felicidade em tê-los conosco. 

Hoje,  por  conta  deste  evento,  estamos  particularmente  azuis. 
Azuis como as setas convergentes do nosso emblema; azuis como 
o setembro que traz alento aos que vão à luta e anuncia a vinda 
das chuvas benfazejas; azuis como o desejo de entender e se fazer 
entender  pelo  outro,  elegendo  o  próprio  corpo  como   vaso 
comunicante;  azuis  como  a  mímica  que  significa  o  estar  no 
mundo e faz disso uma prece à vida; azuis como a liberdade que 
se busca no horizonte.

O azul turquesa é o escolhido pelo movimento para representar a 
comunidade surda em todo o mundo. Um azul nobre como a 
causa. E são nos setembros azuis que a comunidade anualmente 
reafirma os seus sinais. O corpo, complemento e extensão da fala, 
depõe o silêncio externo. As mãos, expressivas por excelência, 
provocam os demais membros sensoriais. Os sinais, brotando do 
corpo, fluentemente falam.

Mas nós estamos aqui é para celebrar e refletir juntos a efetivação 
do espaço sociocultural conquistado pelos surdos.  D. Pedro II 
tinha em mente esta efetivação quando criou o Instituto Nacional 
de Educação de Surdos (INES), nos anos oitenta do século XIX. 

O percurso não tem sido fácil. A linguagem dos sinais tem uma 
linha do tempo conflituosa e polêmica. Mas, importa saber é que, 
no presente, LIBRAS é uma língua reconhecidamente nacional, E 
tem sua universalidade garantida. A primeira vez que 
vimos Rebeca Nemmer traduzi e interpretar, 
com  singular  sensibilidade,  o  hino  nacional  brasileiro 
(http://www.youtube.com/watch?v=Fn2QyvzKRmA)  tivemos  a 
confirmação do que acabamos de afirmar acima. Nada poderia ser 
mais nacional que aquele ser iluminado expressando o seu amor 
ao país.

 Por tal motivo, causa-nos estranheza saber que “do ponto de vista 
da  educação  inclusiva,  o  MEC  não  acredita  que  a  condição 
sensorial  institua  uma  cultura.  As  pessoas  surdas  estão  na 
comunidade,  na  sociedade  e  compõe  a  cultura  brasileira.  Nós 
entendemos que não existe cultura surda e que esse é um princípio 
segregacionista. As pessoas não podem ser agrupadas nas escolas 
de  surdos  porque  são  surdas.  Elas  são  diversas.  Precisamos 
valorizar a diversidade humana” (Fonte: Revista Feneis sobre a 
reportagem CONAE, página 23, 3º parágrafo). 

Segregar, a nosso ver, é não ter, no corpo docente das escolas públicas, 
professores de  LIBRAS.   Valorizar  a  diversidade  humana,  no  nosso 
entendimento, é algo bem maior: é conviver com as diferenças e 
tentar  supera-las  considerando  as  particularidades   do  outro, 
valorizando e aceitando sua cultura.

Por  essas  e  outras  razões,  acreditamos  que  a  saída   é 
intensificarmos a discussão em torno do conceito de inclusão que, 
parece-nos,  ainda  não  está  posto  de  forma  clara  e  nem 
politicamente  correta.  Basta-nos  lembrar  de  que  os 
afrodescendentes  e  os  índios  já  estiveram  no  centro dessa 
discussão pelo viés das cotas de ingresso ao ensino superior. 

São  eventos  da  natureza  do  UNIR  AZUL que  oportunizam  o 
aprofundamento  de  um  tema  tão  sensível.  Aqui  ouviremos 
representantes  de  diferentes  seguimentos  da  sociedade:  a 
academia,  as  associações  dos  surdos  e  dos  tradutores  e  a 
comunidade de um modo geral. Nossa expectativa, neste sentido, 
é que avancemos a discussão numa atitude positiva e pautada na 
realidade prática. Claro que há lugar para os sonhos – sempre haverá –
 mas para os sonhos construídos coletivamente, que não 
tentem maquiar a realidade que nos cerca.

Caso  algum  de  vocês  nos  perguntasse  agora  se  estamos 
preparados para receber os alunos surdos na Universidade Federal 
de Rondônia, diríamos que não, mas que queremos estar. Sim. 
Queremos estar e contamos com a ajuda de todas as pessoas e 
instituições  envolvidas  nesta  busca  de  uma  inclusão natural  e 
necessária, que entendemos como uma incumbência conjunta.

E para terminarmos, reforçando as boas-vindas, afirmamos que 
estamos  azuis.  Azuis  como  o  bando  de  araras  que  cruza, 
diariamente, os céus deste câmpus, em sonoras revoadas, sem 
reclamar só para si o direito sobre a paisagem, repartindo com 
outros seres a vastidão celestial estampada neste azul sem fim. 
Bons ventos e bom evento para todos nós!   

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